NASCE-ME O AMOR
Poema de Antonio Miranda
“A realidade não temos
excluí-la porque é vil
A exatidão torna impura
tua vaga literatura” — Mallarmé
Nasce-me o amor
e brindo, agora,
à chuva, tensos lábi
oscilam, tênues
a trajetória da
sede
que, de saliva,
às promessas, o
percurso dual
nasce-me o amor
e brinco, agora
(chove) com os
dedos, densos, sobre
as ondas dos cabelos:
luz resvala mar
que impro
visa
lamber os pés
nos ataques circulares
nasce-me o amor
e o percorro (a
mim?) a pele
— morena —, e meus
dedos escrevem
— sonâmbulos e
tímidos, quanto
não lhe disse
se nasce o amor
prefiro o ato às
palavras: amor
faz-se verbo,
o verbo é ação!
brindo-lhe a face
e a chuva agita,
nervosa e rendeira,
a enchente que nos
vem aos pés: se
nasce o amor, os
pés descrevem o per
curso dual e a
chuva fracassa
epílogo
território dominical:
perfil esguiotolo e
o juego, esta canção
fa (lábios) de
nasce(me)lhe o amor!
Rio de Janeiro, 1961
[poema escrito aos 21 anos de idade.]
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